quarta-feira, 5 de maio de 2021

FESTA DO CINEMA a.C. 2021

 


Já começou a nossa Festa do Cinema. Este ano, durante duas semanas e com o envolvimento de menos turmas, por causa da pandemia.

No Dia Mundial da Língua Portuguesa, abrimos com um filme português, em língua portuguesa.

Na tarde do dia 6, teremos a presença do Lucky Star – Cineclube de Braga, que trará o filme "Vem e Vê" de Elem Klimov, que deu mote à nossa Festa deste ano.

LUCKY STAR – CINECLUBE DE BRAGA

VEM E VÊ, de ELEM KLIMOV

 



 

Título original: Idi i Smotri

Realização: Elem Klimov

Argumento: Ales Adamovich e Elem Klimov

Fotografia: Alexey Rodionov

Música: Oleg Yanchenko

Montagem: Valerya Yanchenko 

Interpretação: Alexey Kravachenko, Olga Mironova, Lyubomiras Lautsyavitchus

Produção: Mosfilm (1985)

 

Sinopse: Um dos mais famosos e impressionantes filmes de guerra jamais feitos. "Idi e Smotri" evita a apologia bélica e a fotogenia da guerra, para insistir sobre o horror e a crueldade que todos os conflitos encerram. O pano de fundo é a Bielorússia, perto da fronteira polaca em 1943, onde um rapaz retira uma espingarda das mãos de um cadáver, para logo depois ser levado pela Resistência para engrossar as fileiras dos guerrilheiros, após os nazis terem arrasado inteiramente a sua aldeia e massacrado todos os habitantes (Cinemateca Portuguesa).

 

O Lucky Star – Cineclube de Braga, em colaboração com Escolas D. Maria II e Carlos Amarante, de Braga, e a Escola Secundária de Vila Verde, promove, nos anos letivos de 2020-2021 e 2021-2022, a exibição de um conjunto de filmes que podem ser associados a o tema “Crescer”, na medida em que, como denominador comum, são protagonizados por jovens em transição para a vida adulta, revelando-nos as suas diferentes experiências e aprendizagens.

O primeiro desses filmes, e o único que será exibido neste ano letivo, é Vem e Vê, do realizador russo Elem Klimov. Trata-se de um “filme de guerra”, mas bem diferente daqueles que usualmente nos são dados a ver. Não veremos nele grandes cenas de combate, atos heroicos ou façanhas assombrosas. Aqui, a guerra não é tratada com um espetáculo montado para entreter e divertir plateias ociosas. Aquilo que ele nos mostra é, antes de tudo, o seu horror, o cortejo de miséria e sofrimento a que se encontra sempre associada. E o nível desumanização a que ela pode fazer descer aqueles que nela são participam, seja como vítimas, seja como carrascos.

Numa sequência inicial, conhecemos Flyora, um adolescente de 16 anos, que, com um amigo, escava furiosamente a terra. Procuram despojos de batalha e, sobretudo, armas que aí poderão ter sido abandonadas. Quer juntar-se a um grupo de resistentes, guerrilheiros que combatem os invasores nazis, mas estes só aceitam quem se apresentar armado. A descoberta de uma espingarda será o seu salvo-conduto para a guerra. De facto, só a usará nessa terrível sequência final onde dispara várias rajadas sobre um retrato de Hitler, numa cena onde as imagens de filmes que glorificam o ditador alternam com imagens de ruína e destruição.

Flyora parte para a guerra de mala aviada e fato domingueiro. É ainda um adolescente, muito jovem e ingénuo. Se ignorássemos o desespero da sua mãe, dir-se-ia que iria partir para uma escola noutra cidade. E, de certa forma, será, de facto, uma dura aprendizagem o que se seguirá. Em pouco tempo, vai envelhecer anos. Em pouco tempo, vai transfigurar-se, refletindo-se no se rosto, na sua pele, no seu olhar, aquilo que conheceu.

A guerra espelha-se no grande plano do olho de uma vaca, moribunda depois de atingida por uma rajada de metralhadora; no pé, ainda calçado, decepado por uma mina; no ladrar furioso dos cães que ajudam os soldados alemães a fechar as mulheres, as crianças e os velhos de uma aldeia na igreja onde serão queimados; na imagem final de Glacha, a rapariga que apenas queria amar e ter filhos…

Vem e Vê é uma denúncia da desumanidade da guerra, mas não faz a apologia do pacifismo. É também uma denúncia impiedosa do nazismo e uma homenagem aos que lutaram para o vencer. “Esta guerra é sagrada”, diz-se no hino que se ouve na cena onde os resistentes posam, felizes e orgulhosos, para uma fotografia de grupo. Porém, o filme recusa afastar-se de sua denúncia da violência da guerra para glorificar os feitos que levaram os partizans à vitória. Na sequência da ocupação da aldeia de Perekod o exército nazi parece imbatível. Na sequência seguinte, está derrotado. Uma elipse separa esses dois momentos. Uma batalha foi, entretanto, forçosamente travada, mas o filme não nos dá conta disso.

Flyora só dispara a sua arma uma vez e mas não o faz sobre seres humanos. Descarrega-a sobre um retrato de Hitler, numa sequência extraordinária onde essas imagens se intercalam com as de filmes de propaganda nazi e das ruínas, da destruição e das vítimas que da guerra resultaram.

António Cruz MendesTop of Form