Já começou a nossa Festa do Cinema. Este ano, durante duas semanas e com o envolvimento de menos turmas, por causa da pandemia.
No Dia Mundial da Língua Portuguesa, abrimos com um filme português, em língua portuguesa.
Na tarde do dia 6, teremos a presença do Lucky Star – Cineclube de Braga, que trará o filme "Vem e Vê" de Elem Klimov, que deu mote à nossa Festa deste ano.
LUCKY STAR – CINECLUBE DE BRAGA
VEM E VÊ, de ELEM KLIMOV
Título original: Idi i Smotri
Realização: Elem Klimov
Argumento: Ales Adamovich e Elem Klimov
Fotografia: Alexey Rodionov
Música: Oleg Yanchenko
Montagem: Valerya Yanchenko
Interpretação: Alexey Kravachenko, Olga Mironova,
Lyubomiras Lautsyavitchus
Produção: Mosfilm (1985)
Sinopse:
Um dos mais famosos e
impressionantes filmes de guerra jamais feitos. "Idi e Smotri" evita
a apologia bélica e a fotogenia da guerra, para insistir sobre o horror e a
crueldade que todos os conflitos encerram. O pano de fundo é a Bielorússia,
perto da fronteira polaca em 1943, onde um rapaz retira uma espingarda das mãos
de um cadáver, para logo depois ser levado pela Resistência para engrossar as
fileiras dos guerrilheiros, após os nazis terem arrasado inteiramente a sua
aldeia e massacrado todos os habitantes (Cinemateca Portuguesa).
O Lucky Star – Cineclube de Braga, em
colaboração com Escolas D. Maria II e Carlos Amarante, de Braga, e a Escola Secundária
de Vila Verde, promove, nos anos letivos de 2020-2021 e 2021-2022, a exibição
de um conjunto de filmes que podem ser associados a o tema “Crescer”, na medida
em que, como denominador comum, são protagonizados por jovens em transição para
a vida adulta, revelando-nos as suas diferentes experiências e aprendizagens.
O primeiro desses filmes, e o único que será
exibido neste ano letivo, é Vem e Vê,
do realizador russo Elem Klimov. Trata-se de um “filme de guerra”, mas bem
diferente daqueles que usualmente nos são dados a ver. Não veremos nele grandes
cenas de combate, atos heroicos ou façanhas assombrosas. Aqui, a guerra não é
tratada com um espetáculo montado para entreter e divertir plateias ociosas.
Aquilo que ele nos mostra é, antes de tudo, o seu horror, o cortejo de miséria
e sofrimento a que se encontra sempre associada. E o nível desumanização a que
ela pode fazer descer aqueles que nela são participam, seja como vítimas, seja
como carrascos.
Numa sequência inicial, conhecemos Flyora, um
adolescente de 16 anos, que, com um amigo, escava furiosamente a terra.
Procuram despojos de batalha e, sobretudo, armas que aí poderão ter sido
abandonadas. Quer juntar-se a um grupo de resistentes, guerrilheiros que
combatem os invasores nazis, mas estes só aceitam quem se apresentar armado. A
descoberta de uma espingarda será o seu salvo-conduto para a guerra. De facto,
só a usará nessa terrível sequência final onde dispara várias rajadas sobre um
retrato de Hitler, numa cena onde as imagens de filmes que glorificam o ditador
alternam com imagens de ruína e destruição.
Flyora parte para a guerra de mala aviada e
fato domingueiro. É ainda um adolescente, muito jovem e ingénuo. Se
ignorássemos o desespero da sua mãe, dir-se-ia que iria partir para uma escola
noutra cidade. E, de certa forma, será, de facto, uma dura aprendizagem o que
se seguirá. Em pouco tempo, vai envelhecer anos. Em pouco tempo, vai transfigurar-se,
refletindo-se no se rosto, na sua pele, no seu olhar, aquilo que conheceu.
A guerra espelha-se no grande plano do olho de
uma vaca, moribunda depois de atingida por uma rajada de metralhadora; no pé,
ainda calçado, decepado por uma mina; no ladrar furioso dos cães que ajudam os
soldados alemães a fechar as mulheres, as crianças e os velhos de uma aldeia na
igreja onde serão queimados; na imagem final de Glacha, a rapariga que apenas queria
amar e ter filhos…
Vem
e Vê é uma denúncia da
desumanidade da guerra, mas não faz a apologia do pacifismo. É também uma
denúncia impiedosa do nazismo e uma homenagem aos que lutaram para o vencer. “Esta
guerra é sagrada”, diz-se no hino que se ouve na cena onde os resistentes posam,
felizes e orgulhosos, para uma fotografia de grupo. Porém, o filme recusa
afastar-se de sua denúncia da violência da guerra para glorificar os feitos que
levaram os partizans à vitória. Na
sequência da ocupação da aldeia de Perekod o exército nazi parece imbatível. Na
sequência seguinte, está derrotado. Uma elipse separa esses dois momentos. Uma
batalha foi, entretanto, forçosamente travada, mas o filme não nos dá conta disso.
Flyora só dispara a sua arma uma vez e mas não
o faz sobre seres humanos. Descarrega-a sobre um retrato de Hitler, numa
sequência extraordinária onde essas imagens se intercalam com as de filmes de
propaganda nazi e das ruínas, da destruição e das vítimas que da guerra
resultaram.
António Cruz Mendes