domingo, 19 de fevereiro de 2023

"Há Múmias na Escola"



Sim, o 7º A, 3º Ciclo da Escola D. Maria II, Braga, foi uma das vencedoras do passatempo "Há Múmias na Escola". Orientada pela sua professora Maria Inês Afonso, a turma concorreu e ganhou!
Estão todos de parabéns!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Fevereiro, Mês dos Afetos

 

Urgentemente


É urgente o Amor,

É urgente um barco no mar.


É urgente destruir certas palavras

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.


É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros,

e a luz impura até doer.

É urgente o amor,

É urgente permanecer.


Eugénio de Andrade


Amigo

Mal nos conhecemos

Inaugurámos a palavra «amigo».


«Amigo» é um sorriso

De boca em boca,

Um olhar bem limpo,

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,

Um coração pronto a pulsar

Na nossa mão!


«Amigo» (recordam-se, vocês aí,

Escrupulosos detritos?)

«Amigo» é o contrário de inimigo!


«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado,

É a verdade partilhada, praticada.


«Amigo» é a solidão derrotada!


«Amigo» é uma grande tarefa,

Um trabalho sem fim,

Um espaço útil, um tempo fértil,

«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'





Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.


Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.


As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.


Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são

Ridículas.


Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.


A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.


(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente

Ridículas).




21-10-1935

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).  - 84.

1ª publ. in Acção, nº41. Lisboa: 6-3-1937.



Uma flor de verde pinho


Eu podia chamar-te pátria minha

dar-te o mais lindo nome português

podia dar-te um nome de rainha

que este amor é de Pedro por Inês.


Mas não há forma não há verso não há leito

para este fogo amor para este rio.

Como dizer um coração fora do peito?

Meu amor transbordou. E eu sem navio.


Gostar de ti é um poema que não digo

que não há taça amor para este vinho

não há guitarra nem cantar de amigo

não há flor não há flor de verde pinho.


Não há barco nem trigo não há trevo

não há palavras para dizer esta canção.

Gostar de ti é um poema que não escrevo.

Que há um rio sem leito. E eu sem coração.


Manuel Alegre




Para atravessar contigo o deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo

Para enfrentarmos juntos o terror da morte

Para ver a verdade para perder o medo

Ao lado dos teus passos caminhei


Por ti deixei meu reino meu segredo

Minha rápida noite meu silêncio

Minha pérola redonda e seu oriente

Meu espelho minha vida minha imagem

E abandonei os jardins do paraíso


Cá fora à luz sem véu do dia duro

Sem os espelhos vi que estava nua

E ao descampado se chamava tempo


Por isso com teus gestos me vestiste

E aprendi a viver em pleno vento.



Sophia de Mello Breyner Andresen




Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


                           Luís de Camões